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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Psicóloga Alemã quebra "O Segredo" do pensamento positivo


Gabriele Oettingen, autora do livro 'Rethinking Positive Thinking' (Repensando o Pensamento Positivo, em tradução livre), lançado nos Estados Unidos
Gabriele Oettingen, autora do livro 'Rethinking Positive Thinking' (Repensando o Pensamento Positivo, em tradução livre), lançado nos Estados Unidos (Divulgação/VEJA)
Para a psicóloga alemã Gabriele Oettingen, o otimismo é o pior caminho para alcançar os desejos. Nesta entrevista ao site de VEJA, uma das maiores especialistas em pensamento positivo explica como combinar imagens de um futuro feliz a seus obstáculos é a melhor forma de tornar os sonhos realidade

“O pessimismo nunca ganhou nenhuma batalha”, disse certa vez o presidente americano Dwight Einsenhower (1890-1969). Para a psicóloga alemã Gabriele Oettingen, ele deveria acrescentar que o otimismo também é incapaz de vencer qualquer combate. 

Apoiada em 20 anos de pesquisas sobre o pensamento positivo, a professora da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, e da Universidade de Hamburgo, na Alemanha, derrubou em mais de uma centena de experimentos científicos a crença de que, para alcançar um sonho na vida, basta imaginá-lo realizado. De acordo com Gabriele, o universo não conspira a favor de ninguém. Ao contrário do que afirmam gurus e best-sellers de autoajuda, como o livro O Segredo, o caminho para alcançar uma meta não é esperar que ela se realize em um passe de mágica, mas trabalhar duro.

“Em qualquer perspectiva, a sabedoria convencional da psicologia e da literatura de autoajuda está errada: o pensamento positivo não ajuda sempre”, diz a psicóloga, autora do livro Rethinking Positive Thinking(Repensando o Pensamento Positivo), lançado recentemente nos Estados Unidos.

​Esperança — Gabriele começou a pesquisar o tema quando vivia na Alemanha, na época em que o Muro de Berlim (1981-1989) separava a cidade em duas. Seu interesse era a esperança que os habitantes de Berlim Oriental alimentavam de poder sair da cidade ou viver dias melhores, apesar de não existir qualquer perspectiva de mudança. A então bióloga queria entender o propósito das fantasias e imagens positivas que povoam a mente de milhares de pessoas que passam por situações difíceis.

Na metade dos anos 1980, Gabriele foi para os Estados Unidos trabalhar com o psicólogo americano Martin Seligman, mais conhecido por seus estudos sobre felicidade e um dos principais representantes de uma corrente chamada psicologia positiva, que pesquisa o papel das emoções no equilíbrio físico e mental. Uma década depois, quando começou seus próprios experimentos sobre o pensamento positivo, os dados mostraram à pesquisadora que fantasiar ou imaginar um futuro em que os desejos são realizados não ajuda a consegui-los. Gabriele replicou os estudos com diversos grupos de idades e sexo diferentes, nos Estados Unidos e Europa, com objetivos de saúde, trabalho ou relacionamentos. Os resultados foram sempre os mesmos. Viver mentalmente os sonhos apenas baixa a pressão sanguínea, causando um estado prazeroso de letargia.

A partir dessa descoberta, Gabriele analisou as táticas daqueles que se saíram melhor em seus experimentos e começou a sistematizá-las. Desenvolveu uma técnica que leva em conta obstáculos reais que precisam ser superados quando se persegue um objetivo e a batizou de "contraste mental" – também exaustivamente testada em laboratório durante as duas últimas décadas.

Costumamos acreditar que visualizar os sonhos e imaginar sua realização ajuda a alcançá-los. No entanto, seu livro mostra o contrário. Quando percebeu que estava indo contra a corrente? No início, eu também acreditava fortemente no poder do pensamento positivo. Então, em 1991, fiz um estudo com 25 mulheres obesas que participavam de um programa de redução de peso. Pedi que contassem como se viam no futuro e como se sentiam diante dos maiores obstáculos para que emagrecessem. Depois de um ano, voltei a falar com elas. Aquelas que acreditavam que iriam emagrecer tinham perdido cerca de 10 quilos a mais que as que não achavam que iriam perder peso. No entanto, as mulheres que imaginavam que teriam dificuldades perderam ainda 10 quilos a mais que as que tinham imagens muito positivas do futuro. As mulheres que se imaginavam longilíneas ou passando pela mesa de doces sem olhar tiveram os piores resultados. Sonhar com o desejo realizado não ajudou e, mais que isso, impediu que ele fosse realizado.

Por que isso aconteceu? Fiquei curiosa e comecei a replicar esses estudos, com mais pessoas, com outros objetivos, para ter certeza do que estava começando a descobrir. Na época, a crença no pensamento positivo era muito forte e ele era pouco estudado. Durante 20 anos, analisei estudantes que queriam tirar boas notas, recém-formados que começavam no mercado de trabalho, homens e mulheres que queriam iniciar uma relação amorosa, discursos otimistas de presidentes e sua relação com a economia e mais dezenas de sonhos. Medimos a pressão sanguínea e descobrimos que as imagens positivas do futuro fazem as pessoas relaxar e induz um estado de prazer. Todos os resultados de nossos estudos, em grupos pequenos e grandes, com diferentes faixas etárias, gêneros, nos Estados Unidos e Europa mostraram o mesmo.

Relaxar e aproveitar o sonho não pode ser positivo? Isso rouba a energia e tira a motivação para seguir o difícil caminho de conquista dessas metas na vida real. Desse modo, as pessoas não se sentem preparadas para superar as adversidades e não percebem quais atitudes são necessárias para tornar os sonhos realidade.

O otimismo nunca é útil? Se estiver interessado em alguns momentos de prazer é muito interessante imaginar quão maravilhoso o futuro será. Ele também ajuda a explorar as diversas possibilidades da vida. Se não estou certa se quero ser cientista ou artista, qual é minha grande paixão, então fantasiar e imaginar como seria o futuro é uma boa ideia. O pensamento positivo também é útil quando estamos presos em situações nas quais não podemos agir. Como os alemães que estavam cercados em Berlim Oriental querendo passar para o outro lado. Ou quando fazemos uma prova ou entrevista de emprego e estamos esperando o resultado. Imaginamos como seria trabalhar na empresa ou receber uma boa nota e isso nos deixa relaxados. Sonhar acordado é necessário para entender o que queremos e dar direção às ações, mas não é o suficiente. Se ficarmos apenas nisso, estaremos tão felizes que é impossível tirar as dificuldades do caminho para alcançar qualquer coisa.

Entretanto, diversas pesquisas mostraram que pessoas otimistas têm melhor saúde cardiovascular, são mais magras e saudáveis. O otimismo não faz bem à saúde? Nossos estudos mostraram que quando o pensamento positivo ou as altas expectativas são construídos com base em sucessos passados, ele é realmente útil. Mas, nossos estudos com jovens deprimidos mostraram que, se essas imagens de um futuro brilhante são boas no curto prazo, elas promovem a doença no longo prazo. Elas agem de forma semelhante aos mecanismos que aliviam dores extremas, como medicamentos ou drogas. São boas no momento, mas tornam as pessoas passivas, inábeis para mudar sua situação. Um experimento que fizemos com pacientes que se recuperaram de cirurgias no quadril mostrou que, quanto mais essas pessoas imaginavam uma recuperação fácil e rápida, pior era sua reabilitação. Aquelas que imaginavam que estariam bem e compreendiam todos os passos necessários para a reabilitação mostraram os melhores resultados.

Ou seja, o segredo para conseguir nossos desejos não é imaginar um futuro dourado, mas, simplesmente, olhar para a realidade e trabalhar duro? Sim, é exatamente isso. Não podemos explorar demais as imagens positivas a ponto de estarmos desligados da realidade. A ideia é: por que vamos nos esforçar em conseguir algo se podemos aproveitar os resultados em nossa mente? Para o cérebro, viver as experiências na imaginação ou na realidade tem o mesmo impacto. Sonhar não é agir. E precisamos sentir a resistência da vida real para sabermos que ainda não chegamos lá.

Como fazemos isso? Contrastando as fantasias com seus obstáculos. Quem ensinou isso foram as pessoas que fizeram parte dos meus estudos. Os participantes que pensavam em um futuro positivo considerando os obstáculos e as tentações no caminho eram os que se saíam melhor. Então vimos que essa estratégia, que batizamos de contraste mental, poderia ser uma saída. O que fizemos foi imitá-los e submeter essa técnica a novos experimentos. Basicamente ela consiste em nomear os desejos e metas e enumerar os obstáculos importantes. Fazendo isso, a pressão sanguínea aumenta, fornecendo a energia e motivação necessárias para a ação.

VEJA

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